Uma data, dois momentos!
Fernando Estevens
Fernando Estevens
Entre o 25 de Abril de 74 e o de 2020 muito mais há do que 46 anos de distância. No primeiro, Salgueiro Maia e as suas tropas ocuparam estrategicamente a cidade e puseram fim a uma Ditadura de 48 anos, imposta pelo Estado Novo, onde a Liberdade dos cidadãos era condicionada por uma forte repressão, dominada pelo medo generalizado a uma polícia política, ao serviço do Estado.
Em 74, o Povo saiu à rua, misturou-se com as tropas e, todos juntos, fizeram a Revolução. Uma revolução sem sangue, onde o único vermelho foi o dos cravos que pontuaram de cor o preto e branco da época. Foram vários os símbolos que ficaram desse dia: o cravo, que acabou por se impor depois de alguém ter colocado um no cano de uma espingarda e Salgueiro Maia, símbolo maior da Revolução, exemplo de coragem e tenacidade, tão bem retratado por Eduardo Gageiro no Largo do Carmo, onde, de megafone na mão, liderou a operação que levou à rendição, e respectiva detenção, de Marcello Caetano. Quase meio século depois, a história deste dia conta-se quase nos antípodas da outra. Privado da Liberdade e dominado pelo medo imposto por um ditador com nome mas sem rosto, o povo refugia-se em casa, confinado na obrigação do cumprimento das regras de uma Direção Geral. O Mundo evoluiu e o País já não é a preto e branco, contudo o vermelho dos cravos foi substituído pelo amarelo, índice do perigo de contaminação e da pandemia. Os heróis, aqui, também não têm rosto: são profissionais de saúde, descaracterizados de feições humanas, unidos pelo desespero de quem luta contra o desconhecido. Marcar estes dois dias, distantes no significado dos momentos, mas unidos pela simbologia da data, foi entendido como uma manifestação de liberdade, materializada na forma de um cartaz. No exercício, a composição gráfica, a geometrização, o desenho das letras, a integração da fotografia e os recursos estilísticos, apontam para várias influências que vão desde Aleksandr Rodchenko até ao Estilo Internacional, passando, numa tangente, pela Nova Tipografia de Jan Tschichold. De notar, a curiosidade dos direitos do cartaz terem sido solicitados para a impressão de um postal comemorativo do 25 de Abril de 2020, pelo autarca da União de Freguesias de Salvada e Quintos. |
NOTA BIOGRÁFICA
Fernando Estevens (n. 1960, Lisboa)
Formação: Design de Comunicação (FBAUL) Design Gráfico (ETIC) Desenhador Projectista (IATA) Colaboração: Paulo Guilherme D'Eça Leal em projectos artísticos como a ampliação do painel de azulejos “Bartolomeu de Gusmão” para o aeroporto de Lisboa, o “O Dilúvio de Quéops” e o filme “Iratan e Iracema” (1984 - 1987) João Charters de Almeida no projecto de marca "Realmarc" (1989) Aurelindo Jaime Ceia na exposição do designer Jorge Alves (2012) Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em Workshop de Experimentalismo Tipográfico (2019) Centro de Investigação e de Estudos em Belas Artes - FBAUL em revista ArteTeoria (2019) Autoria: Identidade visual e sinalética das “Lojas da Solidariedade e Segurança Social” (1999-2001); Identidade visual e comunicação do “Dia Nacional da Segurança Social 1999 (1999); Projecto de Museografia do “Palácio dos Marqueses de Marialva” na Praça Luís de Camões, em Lisboa (1999) Projecto expositivo, catálogo e comunicação da exposição Adriana Bertini, para o "Dia Mundial da Luta Contra a Sida" (2002); Identidade visual da CM de Cascais (2003-2010) Sinalética da "Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana" (2005); Projecto de Museografia e sinalética do "Farol Museu de St. Marta" (2007); Projecto expositivo, catálogo e comunicação da exposição do Núcleo Cascais XXI para a Trienal de Arquitectura (2007); Projecto expositivo e comunicação do “Mod Weekend” (2007); Projecto editorial da tese de José Carlos Pereira"As doutrinas Estéticas em Portugal do Romantismo à Presença" para a editora Hespéria (2011); Da exposição de etno-botânica “Memória de Cheiros Esquecidos” (2012) Da instalação artística "Escópio" para a EGEAC (2016). Fundou: Atelier FE"DESIGN'ERS (2000-2010). |