Pigmaleão a partir de Cão
João Castro Silva
João Castro Silva
(trecho da conversa mantida no WhatsApp) "03.04.2020 — vou fazer um vídeo, pode ser? p Dobra – claro que pode 04.04.2020 (depois de partilhado um esboço) — seria mais ou menos isto com o riff Thunderstruck dos AC/DC, e até se pode chamar Pigmaleão – A ideia é a paixão pela escultura, como em Pigmaleão? —- Ainda não sei o que é, acho q tem mais ver com a música, com o Angus Young conseguir manter aqueles acordes daquela maneira por tanto tempo, (5 minutos e 21 segundos), imagina estar um dia inteiro a trabalhar em escultura quase sempre ao mesmo ritmo (não os acordes, claro, ninguém aguenta um dia inteiro a tocar aqueles acordes. mas imagina um ritmo mais lento que também faz som: escultura de talhe em pedra ou madeira. se for um som mais agudo, mais metálico é pedra, se for um som mais grave, mais quente é madeira). – vídeo, performance escultura e som. Qual o conceito? Quando falaste de Pigmaleão associei a tua paixão à escultura (cão). a performance no vídeo ia nesse sentido. O som “atingido por um trovão” vai no sentido do mito do Pigmaleão, uma espécie de epifania (mas não tem nada a ver com isto, certo? Queria perceber a tua visão sobre o que propões). — A Escultura não se faz com conceitos.... faz-se fazendo. Aquilo ainda não está pronto, as tantas envio só uma foto da escultura, logo se vê... mas realmente tens razão, não vale a pena fazer sobre o feito, estar a inventar. Aquilo está feito, é tentar dá-lo a ver por fotografias, p que teatralizar? tens razão – Hahah, estás tão bem doutrinado! (...) Pode não se fazer de conceitos mas depois leva com uns quantos em cima. Inevitável... somos humanos. — haha! não estou doutrinado, fazemos é parte da mesma gente, daquela que sabe bem o que é estar o dia inteiro a trabalhar quase sempre ao mesmo ritmo. um trabalho repetitivo e duro, que dá cabo do corpo e puxa pela cabeça mas que dá um gozo do caraças que não se consegue explicar... depois está feito... demos tudo o que tínhamos, fomos fazendo, foi-se fazendo, de uma maneira incompreensível, do mesmo modo que se fazem muitas outras coisas na nossa vida. depois as pessoas olham, observam, lêem, e numa vontade de entendimento, de tornar a coisa sua, metem-lhe em cima, atribuem-lhe, conceitos, temas, significados, simbologias metáforas, daquilo que lhes vai na cabeça, na alma, no coração, na psique (chamemos-lhe o que quisermos) É isso mesmo, somos humanos” |
NOTA BIOGRÁFICA
João Castro Silva, 1966, Lisboa, Portugal. É Escultor e Professor Auxiliar da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa onde lecciona nos três ciclos de estudos - Licenciatura, Mestrado e Doutoramento - do curso de Escultura. Licenciou-se e doutorou-se na mesma Faculdade.
É membro do Centro de Investigação de Estudos em Belas-Artes (CIEBA) e colaborador estrangeiro no Grupo de Pesquisa LEENA (Laboratório de Extensão e Pesquisa em Artes), da Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil.
Desenvolve investigação prático-teórica na área da escultura de talhe directo em madeira. Expõe regularmente desde 1990 e tem obra pública em Portugal e no estrangeiro. Participa em simpósios, ganhou diversos prémios e está representado em colecções nacionais e internacionais.